Saudade
Subo o muro, o tempo recua.
Revejo-me a entrar na tua casa, sinto a tua
presença, vejo o teu sorriso, acolhedor como sempre, a tua segurança
conforta-me.
Oiço umas vozes e a realidade volta: rostos
fechados, olhares vazios, sorrisos apagados.
A insegurança e a exaltação tomam conta de mim, o
ritmo cardíaco aumenta, a respiração torna-se mais curta, o passo apressado, até
que, olho para o mar, estendo a minha mão, e, lá estás tu, novamente, com esse sorriso,
quase que sinto o teu abraço, aquele abraço de chegada, como sempre demos.
Perco-te, novamente, é fim de tarde, o mar está
agitado, gotas salgadas tocam no meu rosto, o vento trespassa o corpo, a
melancolia e a saudade pesam-me a alma. Vejo pessoas apressadas, correm contra
o tempo, não há felicidade, não há calma. A cidade perdeu o encanto, está tão
vazia, tão cinzenta, tão suja.
Com o passo mais calmo, olho novamente o mar, aquela
agitação, revejo-me naquele silêncio, confortável, noutro espaço, noutro tempo,
noutro muro, sem pessoas, sem rostos frios, sem pressas, sem ruídos; sei que,
aí, posso encontrar-te, posso sentir-te novamente perto de mim, a saudade
diminui, a alma torna-se mais leve.
Mas, a realidade volta, sinto-me pequena, esmagada,
sei que é inútil procurar-te, a tua casa está vazia, fria, só o cheiro
permaneceu. A tristeza espalha-se, as lágrimas correm-me o rosto, a alma
pesa-me, os olhos fecham-se, não há calma, não há tempo, não há silêncio, não
há conforto.
<3, F.
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